2.8.09

Demo, um musical Teatro Praga

Ao princípio era a Índia. Mas num espectáculo do Teatro Praga nada é o que parece. E uma sugestão depressa passa a pretexto que, como sempre acontece, e este Demo não é excepção, será construído com desvelo e desmontado com fervor. Com uma diferença: Agora tem música.

O pretexto é uma história de amor, mais ou menos linear e mais ou menos compreensível, a espaços, muitos, armadilhada por referências que tanto incluem a Bulgária e a Islândia como um tanque de crocodilos, filmes de Fritz Lang, M. Night Shyamalan e Walt Disney, ou leituras de Alberto Moravia, Nicholas Goodrick-Clarke, Dante, G. K. Chesterton, Heiner Müller, Isaac Babel, ou o padre Manuel Bernardes e o Kamasutra. Não é tudo. Ainda há as personagens excêntricas. A saber: Savitri, uma donzela semi-mítica (Rita Só), um Touro (André E. Teodósio), uma socialite (Patrícia da Silva), um xamã cirurgião plástico (Carlos António), Ilse Koch, a enfermeira ou a cadela de Buchenwald, como se queira (Miguel Bonneville), o poeta (Pedro Penim) e o editor (Luís Madureira), uma personalidade televisiva (Cláudia Jardim), uma grávida (Joana Manuel) e assim sucessivamente, até serem uma trintena, incluindo ainda uma tradutora (Joana Barrios), uma puta e um aleijado, o próprio futuro e o oceano, mais a banda da casa, Masterminders (Kevin Blechdom, Christopher Fleeger e Andres Lõo), e a passagem cerimoniosa de Rão Kyao pelo palco.

Assim partiu a companhia, a “ler a Europa” e “o outro para nos vermos a nós próprios”, com o desejo de reflectir na plateia suas considerações e dúvidas, interessando os espectadores com bons números de malabarismo visual e retórico, no processo deixando rasto de ideias como quem espalha partes de um quebra-cabeças ao som da partitura de Blechdom, Fleeger e Lõo, que parece sempre um pouco desgarrada do “enredo” e ironicamente respeitadora dos cânones do teatro musical que a lógica plástica da peça supostamente deveria desmanchar e remontar. Daí um espectáculo agradável e movimentado.

Mas o que resta agora saber é se o Teatro Praga vai prosseguir a caminhada sobre estas mesmas pedras polidas e tornadas escorregadias pelo uso.

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