23.1.09

veneno cura



Quase sempre de noite como os Portugueses gostam, poesia no enquadramento e espectadores em surdina pela sujidade animal e doente de pessoas que nunca ninguem conheceu.

Três heroínas femininas e mal-amadas: Rosa (Sofia Marques), a mãe acusada de matar o próprio filho que entra em ruptura psicótica; Rita (Sandra Rosado), a dona do Imperatriz – ao estilo do kubrickiano De olhos bem Fechados – que descobre que a morte lhe espreita e divide a angústia com o irmão (Miguel Moreira) com quem vive uma bizarra relação incestuosa; Rubia (Margarida Carvalho), estrela e sucessora natural do Imperatriz – mais bela segundo o argumento do que de facto é – desdobra-se entre a mulher fatal e a submissa de um amor não correspondido por um fotógrafo (Gustavo Vicente ) que parece não conseguir ver-se livre da paixão voyeurista e obsessiva por Rita.

Cruzam-se assim histórias de vários amores obcuros e obscenos vividos, pretensamente, no limite. Mas se à partida se nota uma necessidade da autora transpôr para a tela o seu imaginário fantástico, este objectido não é conseguido, pelo menos não de forma inteligível no grande ecrã. Tem os lugares-comuns – a começar pelas personagens – e, mais uma vez, o recurso a um dos maiores clichés do cinema nacional: o recurso ao sexo para obter o arrojo, mas o mais perturbador é argumento desconexo e a violência latente mas desgovernada.
Em resumo uma obra doente, mórbida, suja, que retrata a sexualidade perturbada, disfunciona de um submundo que não é de ninguem e que nao mexe com ninguem, e não fala de ninguem porque ninguem dialoga assim (dialogos impossiveis). Historinha da carochinha da melancólia dos mal-amados que não aguenta nem a continuidade natural das historinhas e claro para ser contemporanea e visceral leva com um picante barato determinado a chocar.
Perdão Miguel Moreira mas os actores já não sussurram nem cantam!


Enfim o que assusta é que a receita parece próspera, pelo menos para Raquel Freire que já anunciou o segundo filme da trilogia, Leis do Corpo, e está prestes a publicar o seu primeiro romance: Obscena felicidade.

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